Eu vi as mentes da minha geração destruídas pela loucura. Nuas, famintas, enquanto se arrastam por labirintos de luz e silício procurando por mais uma dose de paz. Anjos, com olhos doloridos de ver constantemente tudo o que é, foi e um dia será. A busca pela conexão sagrada que foi roubada, repartida e vendida por assinatura em serviços de streaming.
Divididas entre o medo e a dor, a deriva na tempestade. Eu quero dizer que tudo vai ficar bem, mas sabemos que não é tão simples. Eu espero, temo e rio. Sim, rio. O absurdo é muito grande e o riso é a última defesa do caído. “O Rei está nu”, gritamos. No fim do dia o Rei continua Rei, mas no momento daquele grito respiramos.
Eu vi as divinas mães, cheias de cor e ritmo, chorarem por seus lares. A destruição é causada pelos filhos do filho. Aquele que também chora ao ver seu amor deturpado no ódio mais cego e irracional. É o sal das lágrimas que faz arder suas feridas. Ó pai, eles sabem o que fazem? É a pergunta que não sei responder.
São caídos. Seduzidos pelas palavras fáceis que crescem nos navio como mofo. A âncora impede o avanço, mas é tão tentador: um ponto fixo na tempestade. O medo de cair no abismo no fim do mundo faz parecer gentil a lenta asfixia da razão.
Escritores do passado imaginaram futuros onde a informação estava oculta. Nosso problema não é a falta, mas o excesso. Um serpentário de Borges, com infinitas variações, infinitos venenos, onde qualquer um pode escolher o que escorre mais docemente por seus ouvidos, selando o caminho por onde passa.
Felipe Molina